Os cristãos e a “necessidade” de engajamento político
Numa campanha política é comum ouvir evangélicos dizendo: “não estou tão interessado em política” ou “a política não é a minha praia”.
Essas observações são muitas vezes proferidas com um verniz de piedade, implicando que o engajamento político é inerentemente corrompido, ocupando uma arena imprópria para os que levam o evangelho a sério. Para aqueles inundados com anúncios de televisão, ligações robóticas, correspondências de campanha e o tom geral negativo da política, essa pode ser uma posição tentadora a ser adotada. No entanto, não é uma posição que os cristãos que amam o evangelho possam ou devam aceitar como congruente com as Escrituras.
Aqui estão quatro razões pelas quais os cristãos devem se engajar com a política:
1. A cosmovisão cristã fala a todas as áreas da vida: uma objeção frequentemente levantada contra o envolvimento cristão com a política é que qualquer coisa além de pregação e ensino da Bíblia é uma distração da missão da igreja. No entanto, esta é uma compreensão limitada do Reino de Deus e contrária às Escrituras. A cosmovisão cristã fornece uma compreensão abrangente da realidade. Fala a todas as áreas da vida, incluindo o engajamento político. No AT, José e Daniel serviram no governo civil, exercendo influência em suas nações. No NT, Jesus engajou-se cuidando das necessidades espirituais e físicas das pessoas. Alimentar os famintos e curar as doenças eram um desdobramento de sua mensagem reconciliatória. Paulo também defende essa abordagem: “Enquanto tivermos oportunidade, façamos o bem a todos” (Gl 6.10). Engajar-se em “boas obras” (Ef 2.10) deve incluir a participação na política devido ao papel legítimo e significativo do governo.
2. A política é inevitável: como “peregrinos e exilados” (1Pe 2.11), pode ser tentador para os cristãos adotar uma mentalidade de que os sistemas de governo terrenos são irrelevantes para a tarefa de promover o evangelho. Mas pergunte a um pastor de uma igreja clandestina ou a um missionário tentando acessar um país fechado se a política é inconsequente. Liberdade religiosa, passaportes e vistos não são luxos desnecessários, mas muitas vezes são vitais para pastores e missionários que procuram pregar e ensinar o evangelho. Como a política tem implicações no mundo real para o evangelismo, missões e pregação, os cristãos devem se envolver no processo político alavancando sua autoridade legítima, defendendo leis e políticas que contribuam para o florescimento humano.
3. Precisamos amar o próximo: quando questionado pelas autoridades religiosas sobre a Lei, Jesus explicou que amar a Deus de coração, alma e mente era o maior mandamento (Mt 22.37). Acrescentou ainda que a segunda prioridade era: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22.39). Quando perguntado sobre as qualificações do “próximo”, Jesus contou a parábola do Samaritano (Lc 10.25-37), indicando que, independentemente de raça, origem, status social ou ocupação, o amor ao próximo é devido. Cumprir o mandato bíblico de amar o próximo e cuidar do “menor destes” deve ser uma prioridade para todo crente. Um bom governo e leis não são fatores desprezíveis na prosperidade e liberdade de uma sociedade. Por exemplo, a maioria dos norte-coreanos é mantida em escravidão econômica por forças políticas corruptas, enquanto na Coreia do Sul os cidadãos recebem liberdade e um sistema que incentiva a prosperidade. O povo da Coreia do Norte precisa de mais do que despensas de alimentos e hospitais; eles precisam de liderança política e políticas que reconheçam os direitos humanos. A obediência à regra de ouro inclui buscar leis que protejam os nascituros, fortaleçam casamentos e famílias, defendam os vulneráveis e ofereçam oportunidades para o florescimento. A política é um meio de efetuar grandes mudanças e deve ser engajada por cristãos que amam o próximo.
4. O governo restringe o mal e promove o bem: o governo deriva sua autoridade de Deus para promover o bem e restringir o mal (Rm 13.1-7). Paulo também exorta que as orações sejam feitas “pelos reis e todos os que estão em posições elevadas, para que possamos levar uma vida pacífica e tranquila” (1Tm 2.1-2), pois entendia a necessidade da participação cristã no governo. O bom governo encoraja um ambiente propício para as pessoas viverem pacificamente, enquanto o mau governo fomenta a inquietação e a instabilidade. Na verdade, o Cristianismo mudou o mundo, através da influência cristã no governo. Exemplos incluem a proibição do infanticídio, do abandono de crianças, da prática de sacrifício humano, além de banir a pedofilia e a poligamia e proibir a queima de viúvas na Índia.
Lierte Soares – é vice-presidente da Baptist Convention Of New England e missionário plantador de igrejas na Nova Inglaterra / EUA, desde 2014. Pastoreia uma igreja em Vermont e está plantando uma igreja multicultural em Boston.
Extraído do Batista Pioneiro, março/abril/2022
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