Pode um cristão defender o impeachment de Dilma Rousseff?
Um dos pastores que residiu em Campo Grande, Gilberto Mynssen, me enviou um e-mail, contendo um link do artigo que tem o título acima, que se encontra no blog Púlpito Cristão, de autoria do pastor Renato Vargens.
Pelo fato de ser algo bem contextualizado, eu o reproduzo aqui, fazendo um comentário, em seguida:
O Brasil está passando por uma de suas mais severas crises. Corrupção, mau uso do dinheiro publico, falência estatal, alta do dólar, economia desaquecida, volta da inflação e a aprovação de leis arbitrárias, tem nos trazido a sensação de que estamos mergulhados num mar de lama.
Diante disso, uma enorme parcela da população tem demonstrado sua insatisfação com o governo Dilma Rousseff. Nessa perspectiva, juristas de renome tem falado do impeachment e de impro-bidade administrativa, além é claro, de milhões de cidadãos, que tem defendido a ideia de que mediante as vias legais, Dilma sofra um impeachment governamental.
Pois bem, diante da defesa do impeachment da presidente, cristãos defensores do partido dos trabalhadores, e por conseguinte de Dilma, tem afirmado que todo aquele que apoia o impedimento da presidente está desobedecendo a Biblia (Rm 13) e que em virtude disto está pecando contra o Senhor.
Caro leitor, isto posto, julgo que seja necessário, explicar à luz das Escrituras que defender o impeachment de um governante não significa de maneira alguma desrespeitar as Escrituras, senão vejamos:
Primeiramente torna-se necessário que entendamos que as Escrituras ensinam que nossa obediência a Deus não é opcional. Na verdade, somos chamados a obedecer ao Senhor em tudo e em todas as coisas. Todavia, ao contrário disto, a nossa submissão às autoridades governamentais, devem ser constantemente avaliadas. Na verdade, o cristão necessita averiguar se as leis aplicadas e defendidas pelos governantes infringem os princípios bíblicos, induzindo assim o servo de Cristo a cometer atos contrários à inerrante Palavra de Deus. O reformador francês João Calvino afirmava que a desobediência civil ou a rebelião somente se justificam quando o Estado quer obrigar as pessoas a desobedeceram a Deus. Segundo as Escrituras, se isso efetivamente acontecer devemos recusar obedecer as leis contrárias a Palavra do Senhor permanecendo fiéis àquele que nos salvou. (At 4. 19-21, 31; Dn 3:14-23). Calvino também dizia que apesar do Estado ser fruto de uma ordem divina, ele não pode ocupar em hipótese alguma o lugar de Deus. O reformador também afirmava que apesar de Deus ter ordenado o governo, Ele continua sendo Senhor sobre a sua ordenação, e o governo continua sujeito a Ele.
Em segundo lugar, o processo de impeachment em nosso país não é um golpe de Estado, nem tampouco uma insubordinação ao governo estabelecido. No Brasil, o Impeachment de um gover-nante é uma regra constitucional e republicana, portanto, lícita. Segundo a Constituição Brasileira (Artigo 85, V) o presidente da República dentre inúmeras responsabilidades, deve zelar pela probidade da administração, o que não tem sido feito pela presidente Dilma Rousseff, visto que órgãos públicos como a Petrobras foram nos últimos anos saqueados por políticos inescru-pulosos.
Vale a pena ressaltar que a lei suprema de um Estado Democrático de Direito é a sua Constituição, portanto, ao defender o impeachment da presidente, o cidadão não comete nenhum tipo de desobediência civil. Antes pelo contrário, ele submete ao Congresso Nacional o desejo de grande parte da população, que investida de direito constitucional, clama aos seus congressistas que mediante votação justa e transparente, intervenha no governo de um presidente, destituindo-o do cargo, reconduzindo assim o país as vias da decência, moralidade e probidade administrativa.
Como vimos, o afastamento da presidente, além de possível e lícito, pelo que se apresenta, podendo, assim, o crente participar do processo.
Agora, se alguém me questionar se esse é o meu desejo, ou seja, o impeachment da presidente, eu respondo que não, pois desejo que a presidente ache o rumo do país, lute contra tudo o que está errado, enfim, que ela mude, pois além dos males citados nesse texto, há também a amizade com regimes totalitários, como Cuba, Venezuela, entre outros.
O impeachment de um presidente é sempre algo traumático, por isso, deve ser evitado na medida do possível. Mas se necessário, não se deve hesitar também, assim como uma criança, quando não obedece ao falar, não se deve hesitar em usar a vara (Pv 13.24).
Agora, a minha grande preocupação é em relação à população brasileira, pois nas eleições de 2014, mais de 30 milhões de brasileiros deixaram de votar; mais de cinco milhões, anularam o voto, e cerca de dois milhões, votaram em branco. Isso somado dá mais de 27% do eleitorado brasileiro. É gente que não está interessada no futuro do país, no seu bem-estar, que não acredita nos poderes constituídos, na responsabilidade e privilégio que tem em construir uma sociedade melhor, elegendo bons políticos.
Quem não se importa com uma eleição não pode se queixar se o caos se instaurar no futuro.
Então, essa é uma das mudanças que deve acontecer, ou seja, na base, entre o povo, que deve se interessar pelas ações do governo, dos políticos, da administração pública, orando pelas autoridades, mas também votando e fiscalizando.
Façamos isso!
Pr. Carlos Trapp
Pr. Carlos Trapp
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