Meu pai amigo
No dia 08 de agosto, comemoramos o Dia dos Pais.
Aproveitei para escrever esse texto e o publiquei no Facebook e no meu blog, onde procuro destacar algumas qualidades de meu falecido papai, dentre as quais a amizade que ele cultivava comigo.
Eis o texto que publiquei, que sofreu alguns acréscimos:
Tive o privilégio de ter um pai amigo, entre outras virtudes.
Se estivesse vivo, teria 91 anos; faleceu, prematuramente, aos 54 anos de idade, vítima de cirrose hepática. Era casado com Elsi Trapp, que faleceu no ano passado (20 de janeiro), e tiveram dois filhos: eu e a minha irmã, Anelise.
Quero destacar algumas virtudes:
- Amigo: Meu pai gostava de me levar para onde ia, sempre que possível, sinal que ele gostava de estar comigo e, consequentemente, eu gostava de estar com ele. Saíamos a pé, a cavalo, de bicicleta e de carroça, puxado por bois ou cavalos. Lembro que íamos aos cultos de carroça.
- Caprichoso: Meu pai gostava de fazer as coisas com capricho, tanto na lavoura, como em casa. Ao capinar, procura não deixar um pé de mato para trás, e até chamava à atenção se eu ou a mamãe deixávamos algo para trás. Se construía algum brinquedo para mim, o fazia com esmero.
- Rigoroso: Ele falava para mim, quanto à disciplina: “Eu falo duas vezes; na terceira, a vara entra em ação, ou assovia”. O rigor de meu pai me ajudou a me livrar de muitos males, sendo que hoje tem muitos pais que pensam que rigor e disciplina são nocivos, e não é isso, conforme a própria Bíblia diz: “O que retém a vara aborrece o seu filho, mas aquele que o ama, cedo, o disciplina” (Pv 13.24).
- Leitor: Ele recebia material da Alemanha, através de um amigo, como revistas e livros. Também assinou, por longo tempo, uma revista chamada Kirchenblatt (Folha Eclesiástica), que era da Igreja Luterana. Lia à luz de lamparina, pois não havia energia elétrica. Às vezes, passava a noite lendo. Tinha uma Bíblia em alemão, de uma Editora Católica, em letras góticas, impressa na Alemanha, do ano de 1900, sem os livros apócrifos (hoje está comigo). Também possuía um livro sobre Medicina, chamado Der Hausarzt (O médico caseiro), impresso nos Estados Unidos, em língua alemã. Aprendi a ler com meu pai, que me comprou livros escolares e eclesiásticos.
- Trabalhador: Morávamos na colônia, tanto no RS como no PR, para onde nos mudamos em 1970. No RS, além da cultura do milho, feijão, soja, batata doce, cana de açúcar, tínhamos uma lavoura de arroz irrigado. Pouco dependíamos de compras na “venda” como chamávamos o comércio local. Tínhamos um pequeno rebanho de gado: uma junta de bois, uma vaca, alguns bezerros, dois cavalos, além de galinhas e porcos. Fazíamos melado e “schmier”, uma espécie de doce para colocar no pão, que era feito de melado, com alguma fruta ou legume. Esse serviço geralmente era feito no inverno e em tempos úmidos, quando se levantava bem cedo para dar conta do serviço. Meu pai não deixava ninguém reclamar de algo; todos tinham que ter boa vontade para trabalhar. Aproveitávamos para assar batatas doces no fogo com o qual era feito o melado. Acrescento aqui que esse melado causava cáries, pois nem sabíamos o que era uma escova de dente. O melado também era aproveitado para fazer pé de moleque, muito usado junto ao chimarrão.
- Formação: Meu pai tinha apenas o Primário, como era conhecido à época. Ele se preocupou com a minha formação, ao me colocar numa escola particular confessional luterana, que era paga, que ficava um pouco mais distante da escola pública. Já estava tudo encaminhado para que eu ficasse na casa de alguém na cidade para fazer o Ginásio. Esse plano só foi interrompido com a venda da nossa terra (12 hectares) e a consequente mudança para o PR, onde meu pai veio a falecer em 1984.
- Gratidão: Quero agradecer a Deus por meu pai, por tudo de bom que me passou, lembrando que no momento do falecimento de meu pai, eu disse que assumiria o compromisso de honrar meu pai, do legado que ele deixou.
Um pai cheio de virtudes é uma grande bênção.
Parabéns aos pais e que você possa ser um pai assim! - Carlos Trapp
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